A Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional (Abralimp) esclarece quais são os procedimentos e produtos eficazes contra o coronavírus

Túneis de desinfecção funcionam ou fazem mal à saúde? Em que produtos confiar para eliminar o novo coronavírus? Ozônio e raios Ultra Violeta desinfetam ambientes?
Fernanda Cerri e Adriano Lowenstein, membros da Câmara de Produtos Químicos da Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional (Abralimp), respondem a essas e outras dúvidas. Confira:

Como o vírus se comporta e como eliminá-lo?

O novo coronavírus tem como característica principal a facilidade de transmissão ao se espalhar por meio de gotículas, tosse ou espirro liberados por um indivíduo infectado. Essas gotículas podem ficar no ar e, embora geralmente sejam expelidas a uma distância de dois metros, podem chegar até sete metros de distância do emissor.

O vírus não fica apenas no ar, mas também em superfícies, e o contato com o nariz, olhos ou boca é o que causa a contaminação. Por isso a necessidade da limpeza e higienização constantes (tanto pessoal, quanto do ambiente). No caso da higiene pessoal, ações básicas como lavar as mãos ou usar máscara continuam sendo as armas mais eficazes.

Mas, em relação à limpeza do ambiente, como saber se o produto “x” ou “y” realmente consegue eliminar o vírus? Primeiro, é importante saber que o coronavírus está numa família de vírus envelopados e que, na tabela de resistência de micro-organismos, é considerada de resistência baixa. O vírus possui uma camada de gordura que o envolve e os detergentes conseguem facilmente rompê-la durante a lavação. Da mesma forma, os desinfetantes também têm a capacidade de penetrar essa camada e inativar ou destruir o vírus. Conforme explica Lowenstein, em relação a essa tabela, qualquer desinfetante registrado na Anvisa como “desinfetante de uso geral” é atestado contra micro-organismos de resistência maior.

É preciso observar, entretanto, que não é possível garantir a durabilidade da ação residual desses produtos. O ideal é investir no aumento da frequência de limpeza e considerar que, por mais que a superfície esteja desinfectada, ao primeiro toque será necessária uma nova higienização.

Água e sabão vs. Desinfetante

Como saber quando é imperativo usar desinfetante ou se apenas água e sabão já são suficientes?

Fernanda Cerri, especialista da Abralimp, esclarece: “Primeiro, é preciso avaliar a superfície a ser higienizada. Superfícies não-críticas, como é o caso dos pisos, requerem apenas água e detergente.”
O foco da limpeza deve ser então nas superfícies críticas, tocadas com frequência e que representam real potencial de infecção. Nelas, é fundamental usar desinfetante e sempre fazer a limpeza prévia, ou seja, limpar a superfície para retirar a sujeira e só então aplicar o desinfetante. Do contrário, seu princípio ativo será consumido pela sujeira, ao invés de eliminar os micro-organismos.

Posso enxaguar o desinfetante? E quando usar o álcool em gel?

Outra dúvida frequente é sobre fazer ou não o enxague dos desinfetantes. Na maioria dos casos, a Anvisa não autoriza o processo de enxague. “Tudo depende do tipo da aplicação. Na indústria alimentícia, por exemplo, a maioria das aplicações desses produtos se faz em superfícies que, sim, necessitam de enxague posterior, porque irão entrar em contato com o alimento. Fora deste contexto, a recomendação é que não haja o enxague porque o produto continuará agindo”, explica Lowenstein.

Já no caso do álcool em gel, a primeira questão a ser lembrada é que só deve ser usado quando não for possível a lavagem das mãos. Para superfícies, embora possa ser aplicado, existem outros princípios ativos mais adequados para a função, como é o caso do quaternário, da biguanida com quaternário ou do peróxido de hidrogênio – com efeito residual já que, depois de aplicados, a água evapora e o princípio ativo continua agindo.

Outros Mitos & Verdades

Além do álcool em gel e dos desinfetantes, comprovadamente eficazes contra o coronavírus, vêm surgindo diversas novidades no mercado – muitas que prometem soluções, mas que devem ser encaradas com atenção ou até mesmo ser evitadas.

Saiba quais:

OZÔNIO

É um poderoso gás oxidante, utilizado dentro da hotelaria para eliminar mofo e maus odores, sendo muito eficaz nesse processo. Entretanto, não há qualquer comprovação ou registro na Anvisa de produto à base de ozônio para uso desinfetante. Além disso, a EPA (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos) não aprova o ozônio para a eliminação do novo coronavírus. Da mesma forma, a Sociedade Brasileira de Infectologia emitiu recentemente uma nota técnica também informando que o ozônio não tem ação contra o vírus.

TAPETES SANITIZANTES

Os tapetes sanitizantes têm sido implantados em locais como shopping centers e hotéis, no processo de reabertura, com a promessa de desinfetar as solas dos sapatos para que o usuário possa adentrar o ambiente. Embora não haja proibição quanto ao uso, a efetividade desse tipo de tapete é discutível. Primeiramente, porque calçados comuns não estão preparados para serem submetidos a desinfetantes.
Segundo, há pessoas que utilizam calçados abertos, como sandálias, o que faria com que a pele entrasse em contato com o desinfetante. O estabelecimento também precisaria ficar atento à reposição constante do produto, já que a alta rotatividade faz com que seu princípio ativo acabe rapidamente, perdendo a efetividade. Por fim, é impossível manter um piso de shopping, por exemplo, ou da própria casa, totalmente desinfetado. E como o piso não é considerado área crítica, o uso de tapetes sanitizantes, em muitos casos, pode acabar sendo meramente decorativo.

DESINFECÇÃO POR RAIOS ULTRA VIOLETA (UV)

É comprovado que o raio UV possui capacidade de desinfecção. É comum encontrá-lo em consultórios dentários ou salões de beleza, por exemplo. Ocorre que o raio UV possui um determinado comprimento de onda e age sobre os micro-organismos para eliminá-los. Desta forma, para que esse tipo de desinfecção funcione é importante que a lâmpada possua o comprimento de onda adequado para um determinado micro-organismo.

De qualquer forma, no caso específico do coronavírus, a Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomenda a aplicação dos raios UV, já que não se sabe qual o tempo necessário para que seja eliminado. No Brasil, a Anvisa e demais órgãos reguladores também não têm qualquer aprovação formal sobre a utilização dos raios UV.

TÚNEIS DE DESINFECÇÃO

Os túneis de desinfecção passaram a ser vistos nos locais mais variados, como nas entradas de metrôs de algumas cidades brasileiras. A Anvisa já emitiu uma nota técnica na qual reprova seu uso. E os riscos são muitos. Primeiro, trata-se da aplicação de um produto saneante (registrado na Anvisa para desinfecção de “superfícies”), sobre seres humanos, colocando o saneante em contato com a pele, olhos, mucosas, sem qualquer conhecimento sobre que tipo de problemas esse contato pode vir a causar.
Além dos riscos, não há comprovação de que o procedimento efetivamente funcione, podendo gerar nas pessoas uma falsa sensação de segurança.

Há, porém, uma exceção: a nota técnica da Anvisa libera, para hospitais, o uso de túneis para desinfecção de uniformes/fardamento/aventais e de EPIs. Isto porque, embora haja toda uma técnica para desparamentação, há grandes riscos de contaminação quando os profissionais estão retirando uniformes e EPIs.

Fonte: www.abralimp.org.br