Síndica de 76 anos dribla quarentena convocando assembleia por vídeo em SP

A pandemia de coronavírus obrigou Raquel Bettoi a improvisar na administração de um condomínio localizado na cidade de São Paulo. Aos 76 anos, a síndica precisou vencer a resistência “a esta coisa digital”, como ela mesma define, para aprender a se comunicar por vídeo. Agora, vai comandar uma assembleia online com moradores de 126 apartamentos — a maioria, idosos como ela. 

“Será a título de experiência, porque nunca aconteceu isso. A maioria que mora aqui é idosos como eu, mas estamos preparando essa assembleia”, explica Raquel, que tem trabalhado para convencer os vizinhos a aderir à novidade.

“Alguns são bem resistentes, não aceitam, mas a gente vai tentando contornar. Eu mesma já imprimi vários boletos para o pessoal, porque muitos não sabem como fazer”, diz, referindo-se à conta condominial que muitas administradoras deixaram de enviar pelo correio. 

A síndica conta que fez cursos para conhecer melhor os computadores e se inteirar das novidades, mas não foi o suficiente. “Fazer cursinho sem praticar não adianta. O pessoal da minha geração é bem resistente a esta coisa digital. Tudo que é digital, a gente tem certa dificuldade”, admite. Com a ajuda das filhas, ela tenta se ajeitar. “Às vezes fico nervosa, não consigo fazer, aí peço para um e para outro, e assim vamos em frente”, persevera.

Ela mora no mesmo endereço há 65 anos. Atualmente vive com o marido em um apartamento, mas tem as filhas por perto, no próprio condomínio. “Como eu sou do grupo de risco, estou sozinha com ele [marido], mas até que está sendo tranquilo.” 

Cuidados com os idosos 

O condomínio em que Raquel é síndica fica no bairro do Belenzinho, entre o centro expandido e a Zona Leste de São Paulo. Não está entre as regiões mais afetadas pela covid-19 na capital, mas a pandemia do novo coronavírus e a grande quantidade de moradores idosos inspiram cuidados.

“Tivemos alguma dificuldade com funcionários, porque os três da limpeza também são do grupo de risco, e por isso estão afastados. Sobrou para o zelador e para os moradores, e agora cada um tem que fazer a sua limpeza”, relata.

A assembleia online ainda não tem data marcada, mas deve acontecer nos próximos dias. A ideia é manter as votações no ar por um período de 24 horas, mas a síndica e demais administradores ficam online apenas em um horário específico para responder perguntas. É aí que a videoconferência acontece.

As dificuldades são quase certas, mas Raquel Bettoi espera a reunião com otimismo. “Bom, nós já fizemos uma videoconferência com os conselheiros. Eram nove pessoas, todos também idosos e alguns com dificuldades, mas conseguimos”, conta, empolgada.

Assembleias digitais têm mais adesão 

O condomínio em que Raquel Bettoi é síndica é administrado pela Lello, que calcula que as assembleias feitas por videoconferência têm cerca de 30% mais adesão do que as presenciais.

Angélica Arbex, gerente de atendimento ao cliente informa que a empresa já realizou mais de 100 assembleias no novo formato. Ela acredita que esse será um legado da pandemia para o setor.

A adesão maior é importante também para debater os problemas que são criados ou aprofundados pela quarentena. “As áreas comuns foram retiradas do cotidiano, então a casa se transformou em um todo: é o lugar do estudo, do trabalho e de muito mais tarefas de casa. Por um lado, a convivência intensa leva à solidariedade com o vizinho e com uma comunidade; por outro, há ânimos mais complexos e menor tolerância com barulho”, pondera Arbex. 

Segundo um levantamento feito em 2016 pela empresa, 37% da população paulistana vive em condomínios residenciais, o equivalente a 4,5 milhões de pessoas.

Fonte: https://noticias.uol.com.br